Death Stranding 2: On The Beach análise – Mais estranho, mais bonito e… mais do mesmo
- por Jorge Loureiro
- 23 de junho, 2025
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Num panorama em que todos os jogos parecem copiar-se uns aos outros, o primeiro Death Stranding destacou-se como algo raro: um AAA com identidade própria. Era estranho, era denso, e não era para todos. Mas era genuinamente diferente... e num mar de fórmulas recicladas, há que dar mérito à obra de Hideo Kojima. Seis anos depois, Death Stranding 2: On The Beach chega como uma sequela direta. É um jogo feito de raiz para a PlayStation 5 e, desde o primeiro momento, percebe-se que Hideo Kojima voltou a apostar forte numa visão muito própria.
O mundo e a história do novo jogo são ainda mais bizarros do que no anterior. Hideo Kojima aproveitou esta sequela para expandir o lore de Death Stranding e introduzir novos elementos absurdos – como uma marioneta falante que corre a 12 FPS – e personagens inéditas com habilidades DOOMS nunca antes vistas. Desta vez, Sam não está completamente sozinho na viagem: conta com a companhia de um leque de figuras peculiares que o ajudam na missão de ligar um novo continente. Ainda assim, como seria de esperar, o grosso do trabalho continua a recair sobre os seus ombros (literalmente).
Sobre Death Stranding 2: On the Beach
Data de lançamento: 24 de junho (early access) / 26 de junho
Estúdio: Kojima Production
Plataformas: PS5 (testada)
Género: ação / mundo aberto
Preço: €79,99
Uma maravilha técnica
Tecnicamente, Death Stranding 2 é um jogo impressionante. A Kojima Productions usou novamente o Décima Engine da Guerrilla Games – o mesmo motor que onde foram desenvolvimentos Horizon Zero Dawn e Forbidden West, bem como o primeiro Death Stranding – e desde o primeiro minuto que somos puxados para um mundo que, apesar de ser diferente do nosso em vários aspetos, tem ambientes de cortar a respiração, desde desertos, florestas tropicais, vales com nevoeiro cerrado e praias assombradas por chuva temporal.
O sistema de física também salta para um novo patamar: a lama e gotículas de sangue que se colam ao fato de Sam, veículos que se degradam com o passar do tempo, deformações no terreno, e uma atenção ao detalhe verdadeiramente obsessiva. Tudo isto é potenciado por uma fidelidade visual absurda. Os modelos dos atores são fotorealistas – há cenas em que parece que estamos a ver um filme live-action, não um jogo. Não é segredo que Hideo Kojima é um apaixonado pelo cinema, e nesta sua obra, há momentos em que chega muito perto da sétima arte.
Um detalhe que regressa do primeiro jogo — e que continua a impressionar — é o facto de todas as armas e equipamentos de Sam estarem visíveis na sua mochila colossal. Cada item tem o seu peso e volume realistas, o que influencia diretamente a movimentação. Se jogaste o original, vais reconhecer a mecânica: tens de gerir cuidadosamente a carga que transportas (embora exista uma opção útil de auto-ajuste nas definições) e, como sempre, podes controlar o equilíbrio de Sam com o analógico esquerdo e os dois gatilhos.
Resumidamente, todos os elementos que tornaram o primeiro jogo numa experiência única estão de volta.
Devido a um fenómeno conhecido como "Plate Gate", em Death Stranding 2 podemos viajar para um novo continente.
Mais do mesmo – e é isso que muitos vão querer
Se jogaste o primeiro Death Stranding e gostaste, então este segundo capítulo é uma aposta segura. A estrutura mantém-se: vamos ligar um novo território (agora, o continente australiano), entregando carga, explorando a paisagem, desbloqueando novas ferramentas, armas e veículos à medida que usamos o Q-PID para ligar uma nova área do mapa, e sobrevivendo a perigos que vão de adversários humanos, robôs (uma das novidades desta sequela) e os habituais BTs.
Há algumas novidades, claro. O destaque vai para a "prancha caixão", uma espécie de jet-surf funerário que te permite deslizar a alta velocidade, até por cima da água, onde anda ainda mais rápido e gasta menos bateria. Os novos veículos, gadgets e armas ajudam a diversificar a jogabilidade. Mas a base continua igual: andar, gerir o peso, planear o caminho, e evitar cair deixar a carga cair (se bem que existem sempre aqueles sprays para reparar a carga).
O elemento social da entreajuda continua presente. Não só podes apanhar e entregar as encomendas deixadas cair por outros jogadores, como também podes usar as ferramentas que deixaram para trás, como as escadas, postos de eletricidade, tirolesas, esconderijos e até veículos.
Em Death Stranding 2 os desafios são mais do que o terreno. Agora há terramotos, tempestades de areia, nevões e até avalanches.
O combate está melhor
As principais novidades de Death Stranding 2 estão aqui.
Hideo Kojima é o criador de Metal Gear Solid e a influência da sua antiga saga nota-se. Há agora mais opções para o combate direto, com uma variedade muito maior de armas, tanto de fogo como corpo-a-corpo, e até ferramentas de stealth. Não vou mentir: há momentos em que tudo ainda parece um pouco “clunky”, e o sistema de física nem sempre acerta na deteção de colisões. Mas no geral, é um passo em frente claro em relação ao primeiro jogo. Até a condução dos veículos está mais polida e responsiva.
Os combates contra bosses continuam a ser, na maioria das vezes, contra os temíveis BTs, que surgem em formas cada vez mais bizarras e grotescas. Nestes confrontos, a mobilidade de Sam é bastante limitada — ficas preso no alcatrão preto viscoso e és obrigado a subir para os escombros de edifícios ou veículos para recuperar algum fôlego. Há sempre um ponto fraco visível nos bosses, e acertar nesse ponto é essencial para esvaziar a barra de HP mais depressa. A fórmula mantém-se familiar, mas há um ou outro twist que te vai apanhar de surpresa.
Não é apenas Sam que tem novas armas para combater; os adversários também têm novidades para lhe dificultar a vida.
Um mundo bizarro como só Kojima sabe fazer
O universo de Death Stranding 2 mantém-se desconcertante: uma mistura de simbolismo denso, personagens excêntricas e momentos que parecem saídos de um pesadelo surrealista. A lore continua rica e complexa, mas exige esforço: se não explorares as mensagens e entradas de texto espalhadas pelo jogo, vais perder uma parte importante das explicações que ajudam a perceber o enredo.
Fica também o aviso: é essencial ter jogado o primeiro Death Stranding para acompanhar esta sequela. Existe um resumo disponível no menu principal, mas é demasiado superficial e deixa de fora detalhes cruciais. Se já passaram uns anos desde que jogaste o original, vale a pena veres um vídeo no YouTube com um bom recap antes de começares.
Se achaste o primeiro jogo estranho, então prepara-te: Death Stranding 2 leva o bizarro ainda mais longe, com sequências verdadeiramente “WTF” que só Hideo Kojima conseguiria imaginar. Gostava de entrar em detalhes, mas seria estragar surpresas. Este é daqueles jogos em que vale mesmo a pena ir descobrindo tudo por ti próprio.
O novo sistema de rail de Death Stranding 2 permite a Sam apanhar boleia de um sítio para o outro sem veículo. Para reconstruíres o sistema, vais precisar de muitos materiais.
Os problemas da repetição
É aqui que o jogo se desequilibra.
A estrutura familiar ao primeiro jogo acaba por se tornar repetitiva. Houve momentos durante a campanha em que senti aquele déjà vu desconfortável de “já passei por isto” — é verdade que voltei ao original há pouco tempo, o que pode ter acentuado essa sensação, mas não deixa de ser um problema. O jogo guarda praticamente todas as grandes revelações narrativas para a reta final, o que faz com que, depois das primeiras 10 a 15 horas (em que tudo ainda parece novo e entusiasmante), o ritmo abrande e a experiência se torne algo arrastada. Há pequenos avanços e teasers ao longo do percurso, mas no geral, a gestão do ritmo narrativo podia ter sido muito mais equilibrada.
Além disso, o jogo retira o sistema de fast travel, introduzido pela nave DHV Magellan (que consegue navegar pelo alcatrão), em vários momentos cruciais. Entendo a intenção: colocar-nos à prova e testar se conseguimos usar as ferramentas desbloqueadas para superar deslocações de longa distância. Mas na prática, é frustrante. Pareceu-me uma maneira artificial de prolongar o jogo.

Veredicto
Death Stranding 2: On The Beach é uma sequela sólida. Expande o universo do original, introduz melhorias técnicas e traz novos brinquedos para facilitar e dar mais opções nas entregas de Sam. Mas perde o elemento de novidade que tornou o primeiro tão marcante. Se ainda tens fresca na memória a tua jornada com Sam Porter Bridges, talvez esta nova viagem soe demasiado familiar. Ainda assim, se és daqueles que adorou o primeiro e embarcaste no estranho mundo de Kojima com entusiasmo, vais encontrar aqui mais uma epopeia emocional, técnica e bizarra. Eu demorei 32.5 horas a chegar ao fim – e embora tenha sentido algumas frustrações pelo caminho, não me arrependo da viagem.
Jorge Loureiro
O Jorge acompanha ferverosamente a indústria dos videojogos há mais de 14 anos. Odeia que lhe perguntem qual é o seu jogo favorito, porque tem vários e não consegue escolher. Quando não está a jogar ou a escrever sobre videojogos, está provavelmente no ginásio a treinar o seu corpo para ficar mais forte do que o Son Goku.

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