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Estarão os jogos AAA a morrer?

Jogos AAA morrer
Imagem gerada por IA

Depois de um enorme crescimento registado na época da COVID-19 porque toda a gente procurou uma forma de matar o tempo enquanto estava em casa – e os videojogos são extremamente eficazes para isso – a indústria dos videojogos está a passar por ajustes. E as mudanças estão principalmente a acontecer no território dos jogos AAA.

Os despedimentos são regulares. O cancelamento de jogos por lançar também. Ainda recentemente vimos tanto a Xbox como a PlayStation a lançar para a guilhotina em vários projetos que estavam em desenvolvimento. O problema, na minha opinião, já não são apenas os elevados custos associados à produção de jogos AAA, mas também a saturação do mercado dos últimos anos.

Hoje há mais jogos disponíveis do que nunca, seja em PC, consolas ou até smartphones. O Steam recebe diariamente dezenas de novos lançamentos, enquanto os serviços de subscrição, como Game Pass ou PlayStation Plus, oferecem catálogos que dispensam a necessidade de comprar jogos individualmente. A abundância é tal que se tornou impossível acompanhar tudo, mesmo para quem faz disto profissão.

Os dados mais recentes, vindos da GFK (são os melhores dados disponíveis), mostram que os jogadores estão a comprar cada vez menos jogos novos. Por exemplo, o “jogo novo” mais vendido da Europa na primeira metade de 2025 é Assassin’s Creed Shadows. Ainda assim, vendeu menos do que EA Sports FC 25, que apesar de ser lançado um novo todos os anos, é mais uma espécie de jogo em continuação.

Ao longo da tabela, vamos encontrando jogos já lançados em anos anteriores, como GTA 5, que ainda figura na terceira posição, ou Red Dead Redemption 2, que surge logo a seguir. Split Fiction, uma nova propriedade intelectual, só aparece em sétimo. O resto da tabela é ocupada por séries já existentes, embora seja importante realçar que Kingdom Come: Deliverance 2, surge em décimo, o que é impressionante para uma série que começou no Kickstarter.

Os jogos mais vendidos da Europa em 2025 (PC e Consola)

  1. EA Sports FC 25 (EA)

  2. Assassin’s Creed Shadows (Ubisoft)

  3. Grand Theft Auto 5 (Rockstar)

  4. Red Dead Redemption 2 (Rockstar)

  5. Hogwarts Legacy (Warner Bros)

  6. Split Fiction (EA)

  7. Monster Hunter Wilds (Capcom)

  8. Call of Duty: Black Ops 6 (Activision Blizzard)

  9. Mario Kart World (Nintendo)*

  10. Kingdom Come: Deliverance 2 (Plaion)

  11. The Elder Scrolls IV: Oblivion Remastered (Bethesda)

  12. Star Wars Battlefront 2 (EA)

  13. Elden Ring: Nightreign (Bandai Namco)

  14. It Takes Two (EA)

  15. Grand Theft Auto Online (Rockstar)

  16. NBA 2K25 (2K Games)

  17. F1 25 (EA)

  18. Tom Clancy’s Rainbow Six: Siege (Ubisoft)

  19. Mario Kart 8: Deluxe (Nintendo)*

  20. Battlefield 1 (EA)

(Fonte: The Game Business)

Saturação substituiu inovação

Enquanto jogador de longa data, sinto cada vez mais uma estagnação. Bons jogos continuam a aparecer, claro, mas em menor número. E mesmo quando são bons, muitas vezes transmitem uma sensação de déjà-vu, como se estivéssemos a revisitar experiências já conhecidas.

As editoras jogam pelo seguro: apostam em fórmulas estabelecidas em vez de arriscar em algo realmente novo. E olhando para a tabela de vendas… quem as pode culpar?

EA Sports FC domina, apesar de ser essencialmente o mesmo jogo todos os anos. Assassin’s Creed Shadows, ainda que refinado, não deixa de ser uma experiência familiar. A inovação cedeu lugar à repetição, porque é isso que vende.

Por outro lado, as grandes editoras continuam obcecadas em perseguir o próximo Fortnite, League of Legends ou Roblox. A Ubisoft quase se afundou ao tentar, uma e outra vez, lançar um jogo como serviço capaz de rivalizar com os gigantes. A própria PlayStation, tradicionalmente conhecida pelos seus jogos single-player com narrativas fortes, também se desviou desse caminho, seduzida pelo sucesso dos live-service. O resultado? Vários projetos cancelados e, na minha opinião, uma das gerações mais fracas da marca.

Apesar da PS5 já caminhar para o seu quinto aniversário, ultrapassando mais de metade do ciclo de vida da consola, os lançamentos continuam mornos. Do lado da Xbox a história não é diferente. Só mesmo a Nintendo tem conseguido manter-se de pé, fiel à sua identidade… mesmo com as habituais “Nintendices” que ninguém entende, mas que, de alguma forma, continuam a resultar.

Poderá ocorrer outro crash nos videojogos?

Numa conversa recente com Robert J. Mical — uma das figuras centrais no lançamento do Amiga e alguém que deixou um enorme legado nos videojogos — ele disse-me que a indústria é demasiado grande para voltar a ter um crash como o de 1983. No entanto, reconheceu que pode encolher. E, sinceramente, acho que já estamos a caminhar nessa direção.

Não tenho dúvidas de que os videojogos vão continuar e que ainda vamos testemunhar novas evoluções. Mas parece-me evidente que estamos num momento de transição. Há sempre altos e baixos, e diria que neste momento estamos num dos períodos baixos.

É por isso que tenho de destacar o trabalho dos produtores indie: é neles que encontro as ideias mais frescas e a verdadeira vontade de arriscar. Com orçamentos mais pequenos, existe mais liberdade criativa e espaço para a inovação, algo cada vez mais raro no universo AAA, onde os investimentos de centenas de milhões tornam qualquer risco quase impossível.

Autor

Jorge Loureiro
Fundador da GeekinOut

O Jorge acompanha ferverosamente a indústria dos videojogos há mais de 14 anos. Odeia que lhe perguntem qual é o seu jogo favorito, porque tem vários e não consegue escolher. Quando não está a jogar ou a escrever sobre videojogos, está provavelmente no ginásio a treinar o seu corpo para ficar mais forte do que o Son Goku.