Hollow Knight: Silksong (análise) | Hype com espectativas correspondidas
- por Pedro Gomes
- 9 de setembro, 2025
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Como um dos jogos mais antecipados dos últimos anos, até ganhando uma legião de fãs fanáticos que vasculhavam entre todas as migalhas de pão existentes na internet, desde updates internos à versão de Silksong na Steam a sinais nas estrelas sempre que um evento ou convenção de videojogos se avizinhava, a fasquia em termos de expectativas estava altíssima. Nas mãos do pequeno estúdio Team Cherry, composto por apenas 3 pessoas, a sequela de Hollow Knight cozinhou a lume brando desde a sua incepção como uma expansão para o título original, alcançando uma dimensão de conteúdo tão grande que passou a ser uma sequela do mesmo e, 6 anos após o anúncio inicial, Hornet tem finalmente direito à sua estreia como protagonista.
Num lançamento sem reservas disponíveis, não foi de espantar que mal a compra foi disponibilizada nas várias plataformas digitais, todas elas tenham sofrido um sobrecarregamento que levou a falhas a nível global. Num preço que contraria as tendências de se cobrar valores cada vez mais elevados por novos títulos, custando apenas 19.50€, resta saber se os níveis de qualidade permanecem aos níveis elevados que o título original demonstrou, ou se Hollow Knight foi apenas um golpe de sorte sem igual.
Versão testada: PC / Steam Deck
Data de lançamento: 4/09/2025
Estúdio: Team Cherry
Preço: 19,50 euros
Bem-vindos a Pharloom
Em Hollow Knight: Silksong tomamos rédeas de Hornet, uma das personagens principais do primeiro título, numa continuação do enredo do original. Capturada e transportada numa jaula com Pharloom a ser o seu destino, a nossa protagonista consegue libertar-se da sua catividade, ainda que tenha perdido os seus sentidos e grande parte dos seus poderes ao fazê-lo. Recuperando, apercebe-se que está bem longe do destino cruel que a aguardava, encontrando-se agora nas profundezas do reinado, onde os habitantes estão a perder a sua sanidade e a tornar-se em verdadeiros monstros selvagens sem motivo aparente. Pelo meio de tudo isto está um grupo de insetos peregrinos que fazem a perigosa escalada até à cidadela de Pharloom, partilhando o mesmo destino de Hornet, que agora se dirige para lá com os seus próprios motivos.
Tal como acontece no jogo original, a história é apresentada ao jogador através de caixas de texto e não recebem voice over, optando por fornecer interjeições simples numa língua inventada partilhada pelos vários insetos. A grande diferença na sequela é que a protagonista participa ativamente no diálogo, ao contrário da nossa personagem em Hollow Knight que não interage de todo, acrescentando muito mais carácter. Encontrando várias personagens amigáveis que adoram ser prestáveis, outras um pouco mais carrancudas e que precisam de ser convencidas e também as que são mais do lado antagonística da coisa, o elenco é variado e, tal na primeira aventura do universo. Com algumas delas a mover-se pelo mundo de forma natural graças às nossas interações, podendo até participar em lutas ao nosso lado, aqui encontrarás um elenco que mais uma vez se tornará memorável como Shakra, o monge guerreiro que entoa as suas cantigas pelo mundo fora e é igualmente responsável por te ajudar a cartografar os vários biomas, entre muitos outros.
Imagem capturada por Geekinout.pt
Escondendo imenso storytelling em caminhos escondidos, mensagens crípticas espalhadas pelo mundo e no ambiente em si, a trama de Silksong acaba por manter o nível alto de qualidade e o local perigoso, mas também misterioso, que é Pharloom traz consigo imenso charme. Para quem adora lores obscuras, mas extremamente interessantes, aqui encontra mais do que brilhou em Hollow Knight, expandindo este universo imaginário que encantou o mundo há 8 anos atrás, sem deixar de ser um bom título standalone para quem não tiver curiosidade no primeiro trabalho da Team Cherry. Apesar de muitos textos vagos, peças soltas que ao início não fazem sentido, mas gradualmente vão encaixando e a necessidade de atenção aos detalhes, esta é uma história bastante sólida cujo mistério manteve-me sempre interessado em desvendar. Com fins diferentes para descobrir conforme desvendamos mais acerca deste curioso mundo e até um terceiro act para desbloquear, não faltam motivos para mergulhar a fundo em Pharloom.
Um enorme e exigente mundo para explorar
Se Hollow Knight trouxe consigo um mundo gigante para explorar a detalhe, Silksong consegue criar um mapa ainda maior do que o seu antecessor, repleto de variedade e locais com imensos recantos escondidos. Entre bibliotecas abandonadas repletas de história, florestas verdejantes cheias de vida e montanhas para escalar com temperaturas de arrepiar, Hornet encontrará pela frente imensos locais cheios de mistérios por descobrir, inimigos temíveis e desafios de platforming de alta exigência, em áreas de grande escala
Para ser um bom metroidvania, não pode faltar um alto nível de exploração e ferramentas de mobilidade para propulsionar o habitual backtracking e sentido de progressão a cada unlock ao longo da jornada. Com um dash extremamente útil para encurtar distâncias entre plataformas, a capacidade de usar a roupa de Hornet para reduzir a velocidade de queda e um duplo salto, não faltam maneiras de visitar locais previamente inacessíveis.
Imagem capturada por Geekinout.pt
Ainda assim, se achas que estas ferramentas tornam os desafios de Pharloom numa piada, aí é que te enganas, porque se Hollow Knight incluía desafios opcionais de platforming exigentes, aqui encontrarás secções obrigatórias para progresso na história que te vão deixar a suar e a bradar aos céus. Felizmente, os controlos são, mais uma vez, extremamente sólidos e afinados, permitindo controlar a nossa personagem de forma perfeita, algo que nem sempre é garantido neste género.
Também extremamente alta é a dificuldade dos vários inimigos e bosses presentes durante quase todo o jogo. Com imensos ataques singulares e combos que te retiram 2 pontos de vida, inimigos que reagem de forma extremamente afiada aos nossos movimentos e arenas que te deixarão fechado contra hordas de insetos nefastos, o nível de desafio oferecido por meros mobs básicos é elevado e este é um mundo absolutamente impiedoso para o jogador. Os bosses são igualmente ferozes, com um elenco bem variado e de elevada qualidade no seu geral, apresentando sempre um obstáculo imponente que me pôs a revisitar o bench mais perto inúmeras vezes.
Além de tudo isto, Pharloom apresenta imensas outras armadilhas e ratoeiras escondidas que te vão deixar indignado, numa sequela realmente impiedosa. A curva de dificuldade começa já num ponto alto e quase nunca tira o pé do acelerador, mas com paciência para recordar os movimentos adversários, upgrades bem necessários e resiliência, não há tarefa que seja impossível ou injusta, sendo sempre um osso bem duro de roer que, em cenário de vitória, é extremamente recompensante e revigorante.
Uma nova maneira de personalizar
Além das técnicas de movimento que vão sendo desbloqueadas ao longo da nossa escalada até Pharloom, o nosso arsenal recebe também novos brinquedos para fazer frente aos vários perigos que se apresentam. Uma das alterações é a adição da barra de Silk, funcionando como a nossa barra de recursos para a habilidade de cura, permitindo agora restabelecer 3 pontos de vida ao completar o cast com sucesso, e também usar diferentes skills. Além disso, a grande novidade em Silksong é a remoção do sistema anterior de equipar charms que forneciam benefícios ao jogador, introduzindo a opção de escolher entre 4 Crests.
Imagem capturada por Geekinout.pt
Ao equipar um destes diferentes Crests, o nosso ataque básico e também nosso ataque vertical, a maneira de fazer “pogo” nas várias plataformas e nos inimigos, é alterada. Entre a opção inicial, o Hunter Crest, que nos dá um slash na diagonal bastante diferente do habitual e o Wanderer Crest que oferece um rápido golpe vertical mais semelhante ao que havia no jogo original, cada um dos Crests dá uma maneira diferente de enfrentar o mundo. Cada um destes modos inclui também espaços para equipar várias ferramentas que se dividem em 4 cores diferentes, sendo possível aumentar a quantidade de vagas através de Memory Lockets, itens bem escondidos pelo mundo. Atenção, contudo, às slots disponíveis, já que cada Crest possui vagas diferentes, portanto é preciso escolher a que melhor se adapta ao teu estilo de jogo.
Apesar dos itens disponíveis para equipar não serem tão diferenciadores como alguns do título original, certos efeitos disponíveis em cada um dos Crests podem fazer a diferença. Com o Reaper Crest, podemos extrair Silk durante alguns segundos após nos curarmos com sucesso, permitindo restabelecer a nossa barra deste recurso de forma mais célere, enquanto que a skill do Beast Crest não permite recuperar HP de forma tradicional, optando por nos deixar fazer lifesteal a cada ataque durante alguns segundos, para repor assim os nossos pontos de vida em falta.
Juntando os aumentos de HP, da barra de recurso, técnicas de movimento e melhorias à nossa nail que aumenta o dano causado, Silksong oferece mais uma vez um sistema que transforma a Hornet do início que perdeu grande parte das suas capacidades numa protagonista capaz de fazer frente às imensas ameaças de Pharloom. Enquanto que algumas destas melhorias são de obtenção obrigatória, como as técnicas de movimento, tudo o resto está dependente da exploração extensiva do mundo, portanto não te esqueças de varrer a pente fino tudo o que encontrares, ou vais sofrer mais do que seria necessário.
Realizar os sonhos
Outra novidade presente em Silksong é a refinação da organização de atividades opcionais a fazer em Pharloom. Denominadas de Wishes, estas podem ser encontradas nas várias populações ao longo do mundo e ficam automaticamente adicionadas ao nosso inventário para concluir conforme quisermos. Desde missões para exterminar uma certa fação de inimigos e colecionar algo dos seus pertences, outras para encontrar um inseto perdido no mundo e as que requerem colecionar frutas ou outros itens espalhados pelos diferentes biomas, a variedade existe, ainda que não seja nada de transcendente ou convoluto.
Com recompensas que variam entre Rosary Beads e Beast Shells, as duas moedas de troca disponíveis, novas maneiras de progredir no mundo ou acesso a NPCs bastante úteis, este é um sistema que recebeu um streamline bastante agradável, quando oposto ao que se encontrou no título original, que apresentava tudo de forma vaga e não havia maneira natural de dar track, acabando muitas das vezes por serem esquecidas.
Ao completar todos estes desejos, além de usufruir das recompensas imediatas individuais, é igualmente desbloqueado um dos diferentes fins disponíveis no jogo! Os pedidos por norma não são extremamente exigentes e alguns deles acabam por ser feitos devido à natural exploração de Pharloom, ainda que determinadas missões requeiram desvios um pouco mais específicos. Valendo bem a pena e acrescentando mais conteúdo a um mundo já repleto dele, este era um sistema com mudanças necessárias e as recebidas são bem-vindas.
Imagem capturada por Geekinout.pt
Apresentação de excelente nível
Para um mundo poder ser realizado de forma mais credível e apelativa, nem sempre é preciso construir algo em 3D com gráficos hiper-realistas como cada vez mais se pode observar num mundo repletos de clones visuais sem grande personalidade ou elementos distintivos construídos no Unreal Engine 5. Mais uma vez, utilizando o Unity Engine, Team Cherry consegue com sucesso criar uma extensão de qualidade deste universo, com arte feita na sua integridade à mão e repleta de detalhes, ambientes variados e personagens, amigo ou inimigo, visualmente distintas. Mais uma vez, a pequena equipa conseguiu refinar parte do que tornou Hollow Knight um sucesso, num mundo 2D cheio de charme e imaginação.
A nível de música, o compositor Christopher Larkin voltou ao estúdio para realizar mais uma trilha sonora repleta de músicas ambiente melancólicas e faixas mais frenéticas para corresponder aos momentos onde a ação aumenta de nível. O budget aqui é claramente mais elevado, oferecendo uma OST de alto nível que preenche de forma perfeita Pharloom e complementa cada momento de forma perfeita. O restante design sonoro continua a ser de alto nível, com imenso trabalho de atenção ao detalhe em termos de efeitos nos ataques, movimentos, sons ambiente e tudo o resto, entregando imersão de alto nível e nunca causando dissonâncias.
A nível de performance o jogo está perfeito. Este não é de todo uma experiência exigente e, tanto no PC como na Steam Deck, o título não tinha qualquer problema em correr, chegando a oferecer mais de 4 horas de bateria no dispositivo portátil, sem qualquer ajuste para poupança de energia. Na questão de bugs, o jogo está cheio deles…, mas isso era o espectável, já que são eles os habitantes do mundo de Silksong. Já a nível de imperfeições técnicas, não tenho nenhum problema a reportar e tudo funciona de forma suave e sem soluços de qualquer tipo, num pacote bastante refinado.
Hollow Knight Silksong a correr numa Steam Deck (imagem capturada por Geekinout.pt)
Prós e Contras
Prós:
Um mundo extremamente excitante de visitar e conhecer;
Platforming soberbo e incrivelmente refinado;
Bosses com imensa variedade e repletos de charme, qualidade e desafio;
Exploração de alto nível, realizada de forma quase natural;
Melhoria em larga escala, numa sequela como deve ser;
Preço surpreendente para a quantidade de conteúdo incluído.
Contras:
Dificuldade elevada pode repelir curiosos menos experientes neste tipo de jogo.

Veredicto
Com o tremendo hype que rodeava há vários anos este título, Silksong correspondeu perfeitamente às espectativas. Num mundo repleto de charme e conteúdo, bosses de excelente qualidade e exploração refinada, aqui encontrarás mais do que resultou no título original, só que em maior quantidade e também qualidade. A dificuldade é impiedosa e deixou-me a arrancar os cabelos e a ter de desligar o jogo em certas partes, mas a pura adrenalina e satisfação pelas tentativas bem-sucedidas nos desafios mais árduos compensava perfeitamente o sofrimento envolvido. A apresentação mantém o nível de polimento imaculado e amei todas as minhas 25 horas passadas em Pharloom para já, algo que pretendo inflacionar após a escrita desta análise. É mais Hollow Knight, aprimorado em todos os sentidos e quando pausava por estar preso num desafio mais exigente ou para descansar, a minha mente só queria voltar a abrir o jogo e mergulhar novamente neste fantástico mundo. Por 19.50€ isto é um roubo de igreja e vale inteiramente a pena comprar de forma fidedigna para continuar a suportar as boas práticas de preço que a Team Cherry para já tem seguido, contrariando as tendências que cada vez mais afastam os amantes de videojogos.
Pedro Gomes
Um verdadeiro amante de videojogos desde muito cedo e sendo o seu hobby preferido sempre, o Pedro tenta agora, como um adulto irresponsável, arranjar tempo para uma jogatana quando os seus dois demónios peludos favoritos o permitem.

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