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Lost Soul Aside (análise) | Bom combate, uma desilusão no resto

Lost Soul Aside Analise
Imagem capturada por Geekinout.pt

Num título originalmente concebido por apenas uma pessoa, Lost Soul Aside foi, ao longo dos anos, acumulando uma equipa sempre crescente de produtores desde o início da sua produção em 2014. Sendo posteriormente um dos primeiros títulos a ser incluído no China Hero Project em 2016, demorou ainda uns bons anos até que o estúdio Ultizero Games estivesse pronto para o lançamento, sofrendo desde então bastantes adiamentos para grande frustração de quem acompanhou todo o processo desde a sua incepção.

Ora 11 anos depois, eis-que finalmente temos o lançamento oficial do jogo, prometendo ação de alto nível de adrenalina e recebendo grande inspiração de colossos do mundo dos videojogos como Final Fantasy e Devil May Cry, querendo misturar os elementos que funcionam dos dois. Agora falta saber se todo este tempo de espera se justificou, ou se temos em mãos uma verdadeira deceção.

História desastrosa

Nesta aventura tomamos controlo de Kazer, um membro da resistência anti império denominada GLIMMER. A acompanhar-nos temos a nossa irmã, Louisa, e é com ela, e não só, que o prólogo nos leva por um plano orquestrado contra o líder do império que rege sobre este mundo, plano este que é abruptamente interrompido por um ataque da força interdimensional conhecida apenas por Voidrax que acabam por roubar a alma de imensa gente presente, incluindo a da nossa irmã. Com a ajuda de Arena, um Voidrax menos hostil com quem o nosso protagonista fica a partilhar desde o início uma relação simbiótica, partimos numa aventura para recuperar as almas perdidas.

A história é desinspirada, com cinemáticas que incluem animações por vezes estranhas, um enredo bastante genérico sem grandes surpresas ao longo da sua totalidade e personagens que são na sua maioria unidimensionais e sem grande personalidade, não sendo de todo memoráveis. Apesar da história em si se arrastar, a secção final Lost Soul Aside consegue ainda assim ser apressada de forma a que o nosso protagonista se teleporte de um lado para o outro e eventos aconteçam sem presságio nenhum durante o resto das horas. Para complementar que nem uma luva todos estes aspetos negativos, estão as vozes em inglês que são na sua generalidade atrozes. Após as horas iniciais, mudei o idioma para japonês já que pelo menos aí a qualidade conseguiu ser maior, não que fosse difícil, sendo complicado para mim compreender como algo de tão baixo nível foi aceite num jogo que estava há tanto tempo em desenvolvimento… Em geral, se procuras uma boa história, aqui não encontrarás nada que se assemelhe a isso e é um dos pontos fracos do título, mas prepara-te porque não podes avançar as cinemáticas.

Lost Soul Aside screenshot PS5Imagem capturada por Geekinout.pt

Combate bem conseguido, mas não perfeito

O grande ponto forte que encontrei neste jogo foi o combate, aspeto que foi claramente o foco do estúdio. Apesar de o nosso arsenal ser reduzido inicialmente, ao encontrar Arena e tendo-o como nosso companheiro, este aumenta consideravelmente e dá imensas ferramentas com as quais Kazer pode defrontar as hordas de inimigos.

Com o nosso companheiro Voidrax que se consegue converter em armas diferentes, vamos progressivamente desbloquear as suas 4 formas, uma espada convencional e ágil, uma espada maior e mais pesada com golpes devastadores, uma lança que pode ser arremessada a grandes distâncias e uma foice que nos permite encurtar o espaço entre nós e os nossos adversários. Cada uma destas formas tem acesso a diferentes combinações de ataques, algumas das quais estão bloqueadas atrás de uma árvore de habilidades referente a cada elemento do nosso arsenal, entregando uma boa variedade de ataques a todas elas, ainda que seja possível ser bem-sucedido dominando apenas uma. Ainda assim, vários inimigos têm fraqueza quando atacados por um dos diferentes elementos presentes no jogo, portanto variedade entre as 4 formas é recomendada. Ao longo dos diversos níveis, estas ferramentas servem também para interagir com vários elementos, permitindo o nosso avanço, tal como a lança que permite ativar mecanismos à distância ou a foice que pode ser usada como um grapple. Por fim, podemos afixar como bem quisermos itens que dão pequenos boosts a cada uma das nossas armas, ainda que as estes não tenham que estar propriamente “fixados” a elas… talvez algo a corrigir numa atualização futura?

Arena traz também vários ataques especiais desbloqueados ao longo da campanha que são fortes, mas estão limitados por um cooldown considerável, e, por fim, uma transformação simbiótica com Kazer, combinando ambas as entidades numa só forma e adicionando assim dano extra às nossas ofensivas, numa opção que também está condicionada por uma barra que é preenchida ao efetuar ataques e outros movimentos naturais durante o combate.

Lost Soul Aside screenshot PS5 (2)Imagem capturada por Geekinout.pt

No lado oposto, temos uma variedade decente de inimigos como os nefastos Voidrax, animais pouco domesticáveis e adversários humanos, oferecendo níveis diferentes de ameaça ao nosso protagonista. Os chefões que estão bem representados em Lost Soul Aside são, na sua grande parte, os pontos altos do título, oferecendo um bom nível de desafio e, por vezes, mecânicas interessantes que sobressaem. Grande parte dos inimigos, sejam eles um boss ou apenas um adversário mais potente, inclui uma barra de pose que é desgastada através dos nossos ataques, habilidades e bloqueios bem-sucedidos. Assim que esta é esgotada, dá-se uma janela em que podemos infligir dano sem resposta durante alguns segundos e também nos permite usar um finisher que é eficaz em desbastar a barra de vida adversária.

Ainda assim, o combate não é perfeito e um dos problemas é a barra de pose, que impede que os oponentes respondam fisicamente ao dano ou levem knock-up para combos aéreos, diminuindo imenso a satisfação de dominar os sistemas de luta e levando assim a que o impacto dos nossos ataques seja muito reduzido durante 90% dos confrontos.

Também pela negativa tenho a mencionar que o volume de encontros inimigos é extremamente alto e a partir do último terço do jogo paramos de desbloquear grandes novidades, tanto no nosso equipamento, como no elenco de oponentes, ao ponto de ficar farto de repetir a mesma tarefa de limpar área de adversários, correr um bocado/percorrer umas plataformas, limpar outra área e repetir até ao enjoo. Aliado à história que não me estava a puxar de todo, as minhas últimas horas no jogo já eram a pedir o fim do mesmo, visto que claramente este já tinha perdido o fulgor.

Exploração desinspirada e níveis esticados ao máximo

Por cada nível disponibilizado, existiam imensos artigos espalhados por todo o lado para serem colecionados livremente. Através de baús ou itens dourados espalhados pelo chão, podemos encontrar vários consumíveis, desde ingredientes para craft, ouro para gastarmos nas nossas compras e variadas poções úteis durante o combate. Em recantos escondidos ou em pleno caminho principal, podia não faltar quantidade, mas faltava sim variedade e utilidade ao que estava disponível. Desde o início que temos ao nosso dispor poções de cura que regeneram os seus usos a cada visita de um NPC bem representado ao longo dos níveis e essas eram mais que suficientes para completar a aventura sem grandes problemas, portanto grande parte das poções que podem ser encontradas por exploração são pouco úteis e cheguei ao fim como um verdadeiro hoarder não só das mesmas, mas também do ouro que não gastei uma única vez…

Também existe um menu de crafting no qual não cheguei a percebem se haviam mais receitas para encontrar ou se existia apenas um item, o que seria bizarro se fosse esse o caso. Se realmente fosse possível acrescentar mais coisas à lista, o jogo não explicou ou foi algo que passou despercebido por mim. Quase todas as coisas que valiam a pena colecionar estavam no caminho principal e eram obrigatórias para progredir na história, tornando a exploração aborrecida e não muito recompensada, ao ponto de me desmotivar de o fazer a partir de um certo ponto do jogo.

Outro ponto que também me aborreceu durante a minha aventura foi a sensação que os níveis eram intermináveis. Por norma, cada uma das áreas introduzia uma mecânica diferente como as pétalas trampolim no segundo capítulo e as ferramentas associadas a cada arma disponível que eram interessantes…, mas o level design é quase sempre tão repetitivo, como tinha mencionado antes, que os níveis em si já estavam a estender demasiado as suas boas-vindas.

Lost Soul Aside screenshot PS5 (3)Imagem capturada por Geekinout.pt

O saco misto da apresentação

Não voltando a bater no aspeto do voice over inglês que já mencionei antes, o resto do design sonoro também me trouxe bastantes emoções mistas. A banda sonora é interessante, trazendo até algumas faixas bem potentes que me chamaram à atenção, enquanto que na globalidade a lista de músicas encaixavam bem e acompanhavam devidamente à ação, ainda que a repetição excessiva de algumas fosse chata, algo derivado do design repetitivo dos níveis. Pela negativa, o mixing dos sons é horrível ao ponto que em algumas cenas a música quase que bloqueava por completo as falas das personagens (algo positivo antes de mudar para japonês!). Também em combate por vezes os sons ficavam distorcidos de tanta sobreposição e cheguei a encontrar um boss mais para o fim em que vários ataques não tinham qualquer efeito sonoro. Além disso, a transição de música entre cenas é feita de forma completamente abrupta e acontece de forma quase permanente, o que era estranho.

A nível visual o jogo também oferece uma verdadeira tosta mista! Por um lado, temos os ambientes diversos que são pitorescos e merecem uma boa fotografia (photo mode não incluído), sendo um ponto bastante positivo para mim, mas por outro lado temos as sombras a dar flicker constantemente ao longo do jogo, as animações bizarras das personagens em várias cenas e imensos artefactos de upscalling que são bem percetíveis nas cutscenes quando a câmara se foca numa personagem.

A nível técnico, felizmente temos algo mais consensual: é péssimo! No modelo base da PS5 o modo de qualidade é horrível e durante o prólogo é notável as várias ocasiões em que os FPS deviam ir abaixo dos 20, o que num jogo de ação é inconcebível. O modo de performance é mais estável e ronda mais frequentemente os 60 frames por segundo, com duas grandes exceções: momentos com maior volume de efeitos visuais a decorrer durante o combate e, o mais chocante, o stutter que ocorre sem falha a cada 30-60 segundos ao carregar uma porção do mapa. Este último é constante, desde o início ao fim do jogo, e é uma grande mancha que não se percebe num título que foi constantemente adiado ao longo da sua produção. Também a mencionar os 2 crashes que tive o prazer de experienciar e vários momentos em que pensei que o título iria abaixo, mas aguentou-se com toda a sua força. Se o jogo não estava pronto e careceu de um Day One Patch para atingir os patamares de qualidade pretendidos pelo estúdio, talvez fosse melhor aguardar mais algum tempo para lançar uma experiência como deve de ser e não um “lança como está, depois arranja-se”.

Prós e Contras

Prós:

  • Combate de bom nível, com boa variedade de combinações e habilidades disponíveis;

  • Bosses variados e desafiantes com mecânicas interessantes;

  • Trilha sonora bem adequada e com algumas faixas que sobressaem;

  • Visuais e ambientes interessantes, ainda que precisem de ser refinados;

Contras:

  • História desinspirada e perfeitamente esquecível;

  • Voice over inglês amador que mais valia ter sido excluído por completo;

  • Personagens desinteressantes e unidimensionais;

  • Problemas técnicos variados como crashes, stutters constantes e instabilidade geral;

  • Design de níveis repetitivo e exploração desinteressante.

Um jogo mediano, que tem algumas coisas positivas, mas que tem outras tantas negativas. Definitivamente, não vale o preço de lançamento.

Veredicto

Em algo que certamente iria ser lançado como um título AA com foco em combate de alto nível e que sabia o que queria ser, acabou por ser inchado para um AAA sem argumentos suficientes para tal. Com uma história perfeitamente esquecível, voice over inglês horrendo e problemas a nível técnico-visual, Lost Soul Aside a seu favor o combate agradável, os bosses variados e visuais que, quando funcionam devidamente, são de bom nível. Pessoalmente comecei por ter uma impressão mais positiva do jogo, mas conforme ia chegando á reta final das minhas 15 horas, reparei que a duração do mesmo já estava a exceder a progressão disponível, esticando a coisa sem necessidade. Ainda assim, acredito que com algumas atualizações bem precisas pela frente e um preço mais adequado, este ainda pode ser um título decente que encontrará no futuro o seu nicho, contudo, no estado atual não o consigo recomendar.

Foto de Pedro Gomes - Autor na Geekinout
Autor

Pedro Gomes

Um verdadeiro amante de videojogos desde muito cedo e sendo o seu hobby preferido sempre, o Pedro tenta agora, como um adulto irresponsável, arranjar tempo para uma jogatana quando os seus dois demónios peludos favoritos o permitem.