Lies of P: Overture (análise) | Regresso ao passado de Krat
- por Pedro Gomes
- 15 de junho, 2025
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Já lá vão 2 anos desde o lançamento de Lies of P, título que conseguiu tornar-se em algo que mereceu grande atenção por parte da comunidade amante de Soulslike, carinhosamente apelidando-o de Bloodborne para o PC, já que esse é continua a ser o port que há anos escapa de forma frustrante à comunidade da plataforma. Acompanhando uma versão mais sombria do Pinóquio da que estamos habituados a ver, o lançamento original trouxe combate satisfatório, visuais bem conseguidos e um nível de dificuldade que exigiu bastante respeito e até levou ao requilíbrio de alguns aspetos do jogo em algumas das atualizações iniciais, para alívio de quem estava a bater com a cabeça num boss complicado e frustração de quem já tinha triunfado com o nível de desafio acrescido.
Agora com a expansão denominada Overture, somos levados atrás no tempo para uma fase logo após os eventos cataclísmicos que antecedem o jogo base e deixaram Krat, local onde toda a ação acontece, no estado pelo qual nos aventuramos inicialmente. Nesta prequela iremos encontrar novos locais para visitar, novos parceiros e inimigos, um arsenal com novidades para experimentar e outras atualizações que visam continuar a refinação da experiência. Está na hora de descobrir se o estúdio Round8 mexeu os cordelinhos de forma certa ou se criou um absoluto nó cego para os jogadores.
Imagem capturada por Geekinout.pt
De volta ao passado
Antes de mais, devo referir que para ter acesso ao conteúdo adicional disponível, é necessário que o Capítulo 9 da aventura base tenha sido completado, a partir do qual o jogador receberá o item que nos deixa voltar atrás no tempo.
Voltando atrás no tempo graças a um misterioso artefacto, a nossa missão imediata é descobrir onde fomos parar, após acordar num manto de neve branco no meio de uma floresta. Ao aprender que fomos colocados num ponto do tempo em que a destruidora Puppet Frenzy e a letal praga da doença de petrificação tinham acabado de assolar a cidade, vamos passar por locais como o Jardim Zoológico de Krat recheado de animais transfigurados e letais, masmorras repletas de atrocidades e minas ainda habitadas por marionetas robóticas que continuam o seu trabalho, enquanto perseguimos a lendária Stalker, Lea. Perfeitamente interligado com os eventos que decorem na timeline original, aqui iremos encontrar várias informações que lhes fazem alusão, acrescentando bastante ao conteúdo base em algo que considero ser uma boa motivação para uma segunda passagem em NG+ pelo título.
Tal como gostei da história de Lies of P quando o passei inicialmente, aqui também consegui encontrar um enredo que me motivou a avançar a bom ritmo a história. Apesar de não ser algo transcendente nem uma ode a obras primas de enredo, não deixa de ser bem conseguida para o género e assenta perfeitamente com o ambiente que o resto do jogo fornece visualmente ao jogador. É obscura, é muitas vezes deprimente e mórbida e inclui escolhas que, tal como no jogo base, permitem a evolução do nosso protagonista rumo ao seu destino, desbloqueando assim o verdadeiro final do título. Se procuras só ação e um bom soulslike, é possível dar skip a tudo o que seja cutscenes e não prestar atenção a diálogos ou interações, já que estes não são fundamentais para a experiência de jogabilidade em si, mas acrescenta um nível de qualidade extra e vale a pena acompanhar e ficar investido.
Imagem capturada por Geekinout.pt
Bloqueia e deflete com perfeição
O combate em Overture não recebeu grandes alterações e inclui apenas mais do mesmo, o que não é necessariamente uma coisa má. Caso não estejas familiarizado com o estilo de Lies of P, aqui encontrarás lutas que mais se assemelham a danças, onde temos que balancear os momentos de bloquear, defletir e atacar, sem nunca permitir um descuido que abra uma janela de fraqueza da nossa parte. A cada tentativa de bloqueio que sincronize com o ataque do adversário, conseguimos defletir o dano na sua totalidade e desgastar a poise do rival que, ao chegar a zero, nos dá a chance de usar um ataque pesado que abre a chance de desferir um potente golpe sem resposta. Mas cuidado porque a janela para estes bloqueios é bem apertada e se bloquearmos demasiado cedo apenas reduzimos o dano recebido, sendo que parte desse pode ser recuperado se atacarmos de volta ou, se a ofensiva adversária nos tocar antes de sequer subirmos a guarda, levamos o dano na sua totalidade. Atenção que nesta expansão não podemos ser caços desta forma muitas vezes, a não ser que o nosso destino seja o Stargazer por onde já passamos. Também há a opção de atacar livremente que, em inimigos mais fracos, pode interromper os seus movimentos e até desfazer-se deles sem que eles tenham oportunidade de sequer tentar tocar-nos.
Não acrescentando grandes mecânicas revolucionárias, Overture traz consigo bastantes adições ao arsenal de P, passando pela inclusão de várias armas, um novo debuff bem geladinho, 2 Legion Arms, equipamento variado, vestimentas para caprichar em termos de estilo e a oportunidade de aprimorar as capacidades do P-Organ do nosso protagonista, através do novo mecanismo que utiliza as recém-introduzidas Upgrade Cores. Não faltam coisas novas para descobrir nesta expansão, isso é certo.
Também com uma dose generosa de novos inimigos e bosses de alto nível para defrontar, todos estes estão prontos para desferir golpes que infligem grandes mossas na nossa barra de vida, é fácil ver o salto de dificuldade do jogo base para esta expansão, uma diferença que chega por vezes a ser um pouco excessiva. Após ter feito uma passagem por Lies of P pouco depois do seu lançamento, ao entrar na primeira área deste DLC recebi de imediato um lembrete por parte dos inimigos mais simples, que arrumaram comigo enquanto ainda me voltava a habituar aos controlos e mecânicas do jogo: esta é uma escalada das hostilidades e não um retorno ao zero.
Infelizmente, acho que a zona inicial que nos leva pelo Zoo de Krat é das áreas com pior design que me lembro no jogo e baixou as minhas expectativas de imediato. Com inimigos que se agrupam rapidamente e deslizam pelo terreno de forma rápida, combinações de ataque erráticas e colocações de alguns mobs de forma frustrante, esta visita ao jardim zoológico é desgastante, culminando num boss final que é a epítome de tudo o que está de errado nesta zona: um crocodilo gigante com alguns ataques que quase não dão janela de reação e que adora empurrar-nos contra a parede, fazendo com que a câmara se descontrole repetidamente e não seja possível acompanhar o que está a acontecer. Felizmente, ao finalizar esta zona tormentosa, o resto da expansão foi dentro dos padrões do jogo base, salvo um ou outro local menos bem conseguido, subindo bastante de qualidade e acalmando um pouco os meus receios.
Imagem capturada por Geekinout.pt
Exploração, progressão e novas adições
Não sendo genial em termos de design de nível, Lies of P continua a optar por usar a fórmula que resultou ao longo da aventura original, espalhando vários colecionáveis que nos ajudam a perceber melhor a história, consumíveis que podem fazer a diferença contra um inimigo mais complicado e, também, itens que nos permitem melhorar as capacidades do nosso protagonista, preparando-nos para o que aí vem, entre outras coisas para descobrir.
Tal como no jogo base, existem vários atalhos que facilitam as nossas run-backs após uma morte completamente injusta e que claramente não foi culpa nossa, NPCs com missões secundárias pela nossa frente e bastantes segredos para descobrir, não faltando motivos para nos desviarmos do caminho principal e passar Krat a pente fino. Também ao explorar e derrotando inimigos, vamos acumulando Ergo, a moeda de troca em Lies of P, permitindo que o jogador compre vários itens de interesse nos vendedores disponíveis ou aumente os seus stats nas diversas Stargazers, locais estes que agem como as bonfires do Dark Souls. E sim, uma das melhores mudanças introduzidas com o lançamento da expansão é que já não precisamos de voltar à nossa base de operações, o Hotel Krat, para poder dar level up, deixando o jogador fazer isso em qualquer um destes pontos locais pelo mundo fora!
Design e performance técnica
A nível estético, Lies of P continua a ser excelente, com cenários cheios de detalhe, texturas de alto nível e um design artístico que sobressai de imediato. Em Overture, grande parte dos locais que visitamos estão cobertos de um extenso manto de neve, com exceção das várias infraestruturas por onde passamos que, além de estar cheias de inimigos violentos, nunca perdem a oportunidade de contar uma história através do ambiente. Seja num laboratório usado para experiências macabras onde podemos ver as atrocidades cometidas ou atrações turísticas onde se desenrolaram massacres em larga escala, nas quais os próprios inimigos disponíveis acrescentam personalidade a cada sítio, nunca deixando que o título se torne aborrecido a nível visual, com vários locais e vistas de encher a vista. Ainda assim, passei por certas zonas que ainda se prolongam por demasiado tempo e nas quais o design artístico era mais fraco e repetitivo, sobressaindo pela negativa.
Em termos de performance, tentei dividir as minhas horas entre o PC e a Steam Deck, ainda que tenha dado maior preferência à maior fluidez da primeira opção.
No PC com um 5800X3D, RX 9070 XT, 32 GB de RAM e instalando o jogo num SSD, a minha média de FPS andou à volta dos 160 sem recurso a upscalling ou à tecnologia de geração de frames disponível, tudo isto na resolução 1440p. A mais visível imperfeição é o pop-in de algumas texturas à distância nos mapas mais abertos e com vistas de longo alcance. Em termos de stuttering ou flutuações grandes da taxa de quadros, não tenho nada a apontar;
Na Steam Deck LCD, agora com recurso à solução de upscalling FSR 3.1 introduzida no patch de lançamento da expansão, consegui rodar com uma mistura de gráficos Low e Medium e alcançar cerca de 50 FPS. Acabei por bloquear o máximo de frames a 40 pelo menu do SteamOS para garantir estabilidade em termos de taxa de quadros e prolongar a vida da bateria, que aguentava mais de 2 horas com estas definições. Ainda sem resolução para o problema do texto um pouco difícil de ler, esta é uma experiência bem agradável de jogar neste dispositivo e produz visuais decentes.
Também em termos de bugs, só tenho a apontar, mais uma vez, os bugs existentes com a câmara em certas lutas contra inimigos mais perigosos durante a história, que quebrava completamente o ritmo do combate e levava muitas vezes à minha morte sem grande maneira de ripostar, já que não conseguia ver a minha personagem de todo e não tinha praticamente controlo sobre as minhas ações. Em termos de crashes ou imperfeições técnicas, é apenas essa a minha crítica, de resto o nível de polimento da expansão continua a um nível alto, como puder verificar durante o jogo base quando saiu.
Prós
História interessante que complementa o universo existente;
Nível maior de desafio, com novos inimigos e bosses de alto nível pelo caminho;
Arsenal expandido com novas armas, Legion Arms e muito mais;
Design visual e otimização continuam de alto nível;
Contras
Primeira zona é um desastre em termos de design;
Vários problemas com a câmara a acompanhar devidamente a ação;
Nível de dano dos oponentes é um pouco excessivo comparando com o jogo base.

Veredicto
Lies of P: Overture é um excelente acréscimo ao título e acrescenta imenso conteúdo. Desde um arsenal expandido, capacidade de elevar ainda mais o poder do nosso protagonista, bosses na sua maioria de alto nível e, claro, uma nova aventura dentro deste universo que não peca em qualidade, aqui encontrarás mais do que resultou no jogo base. Ainda assim, a primeira zona inclui um design no seu geral desastroso e a câmara precisa urgentemente de ajustes para acompanhar melhor alguns dos inimigos introduzidos nesta expansão. A dificuldade também chega a ser um pouco injusta devido ao design frustrante de algumas zonas, combinando com os números de dano por vezes ridículos que os nossos oponentes nos infligem. Se procuravas uma razão para voltar a Krat, este é sem dúvida um excelente motivo para o fazer, mas certifica-te que vais preparado para o desafio!
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Pedro Gomes
Um verdadeiro amante de videojogos desde muito cedo e sendo o seu hobby preferido sempre, o Pedro tenta agora, como um adulto irresponsável, arranjar tempo para uma jogatana quando os seus dois demónios peludos favoritos o permitem.

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