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Xbox: uma marca sem exclusivos, sem rumo e sem confiança

Xbox Series X
Crédito da imagem: Microsoft

A este ritmo, ninguém vai querer comprar uma consola Xbox na próxima geração.

Já não é uma marca com identidade. É um aglomerado de estúdios comprados à pressa, colado com fita-cola pelo Game Pass. E com os acontecimentos dos últimos meses, é legítimo perguntar: por que motivo alguém compraria uma consola Xbox na próxima geração?

Omtem, a Microsoft cancelou dois dos seus projetos mais promissores — Perfect Dark e Everwild — e fechou o estúdio The Initiative. Cortes profundos foram feitos em estúdios como a Turn 10 (criadores de Forza) e Raven Software (Call of Duty), afetando até 50% da força laboral. Estes despedimentos são parte de uma onda de 9 mil postos de trabalho eliminados na empresa. Não, não é apenas "reestruturação". É o reflexo de uma estratégia falhada.

Durante mais de uma década, a Xbox andou à deriva, tentando recuperar do desastre que foi o lançamento da Xbox One em 2013. Em vez de resolver os problemas com uma linha editorial forte e clara, optou por investir em aquisições — Bethesda, Activision Blizzard, ZeniMax. Tudo numa tentativa desesperada de criar um catálogo de peso. Mas não chega comprar estúdios. É preciso saber o que fazer com eles.

O início desta geração até pareceu promissor. A Xbox Series X surgiu como a consola mais poderosa de sempre, acompanhada pela Series S — uma versão mais barata, para quem não se importa com resoluções e framerates. Mas o problema da Xbox é simples: falta-lhe visão. A marca não sabe o que quer ser. Prometeu jogos exclusivos, mas acabou por lançar praticamente todo o catálogo na consola rival.

Garantiu aos fãs que Starfield e Indiana Jones seriam “next-gen exclusives”, mas neste momento é difícil acreditar em qualquer palavra de um executivo da Xbox. É normal que os fãs se sintam traídos. Quem em 2020 deu 499 euros por uma Xbox Series X pode hoje sentir que fez a escolha errada — teria sido mais inteligente comprar uma PS5, que agora recebe jogos da Sony… e também da Microsoft.

Acho que já se tornou claro que a Xbox não é uma plataforma — é um canal de distribuição. E cada vez mais se parece com um publisher third-party que por acaso também vende consolas.

A ilusão do Game Pass

Durante anos, o Game Pass foi vendido como a grande arma da Xbox.

Mas essa aposta revelou-se um buraco sem fundo. O serviço dilui os lucros dos lançamentos, desincentiva o investimento em campanhas de marketing e desvaloriza os próprios jogos. Halo Infinite e Starfield falharam não apenas por chegarem tarde ou por, apesar de competentes, não cumprirem as expectativas elevadas. Falharam porque foram lançados num ecossistema onde nenhum jogo tem peso. Quando tudo está incluído numa subscrição, nada tem verdadeiro valor.

Não é por acaso que a Nintendo Switch 2 — a nova consola de uma marca que sempre soube manter a sua identidade, nos altos e nos baixos — já esteja a bater recordes e a vender a um ritmo impressionante, mesmo tendo apenas um exclusivo relevante: Mario Kart World. Os jogadores sabem que, se quiserem jogar títulos da Nintendo, só há uma maneira. E sabem também, com base no histórico da consola anterior, que o catálogo será, quase garantidamente, fortíssimo.

É isso que os executivos da Xbox ainda não perceberam. Leva tempo a construir a confiança dos jogadores e a criar uma identidade sólida. A Microsoft achou que podia simplesmente comprar o caminho para o sucesso, despejando milhares de milhões na aquisição de estúdios com catálogos valiosos. Já sabemos qual foi o resultado: a marca está longe do sucesso que imaginava e, no fim, quem paga são os trabalhadores, com milhares de despedimentos.

Uma transição mal comunicada

O que está a acontecer com a Xbox é uma transição para um novo modelo de negócio.

A empresa está a lançar os seus jogos na PlayStation aos poucos, na esperança de que ninguém reaja mal. Mas já ninguém é ingénuo. Esta nova Xbox é uma empresa que gere algumas das maiores propriedades intelectuais da indústria — Minecraft, Fallout, Candy Crush, Diablo, Halo, Forza, Warcraft — mas que parece mais preocupada em alimentar acionistas do que em construir uma comunidade ou dar razões aos jogadores para acreditarem.

Cancelar jogos acontece em todas as editoras — até na Sony e na Nintendo (embora esta última tenha, provavelmente, o cadastro mais limpo). Mas no caso da Microsoft, já há um padrão. Cancelar Everwild e Perfect Dark dá logo flashbacks de Scalebound. Já para não falar da decisão de encerrar a Tango Gameworks, que produziu um dos jogos mais originais da marca nesta geração Hi-Fi Rush (felizmente, o estúdio foi ressuscitado por outra editora).

E pior: a narrativa de que a Xbox “é boa para a indústria” já não convence ninguém. Foi esse o principal argumento usado para justificar a compra da Activision Blizzard. Agora que a compra foi concluída, alguém me explica em que sentido foi melhor? Sim, o Call of Duty está no Game Pass, e não é preciso dar 79,99 € para jogar. Mas qual foi o custo? Milhares de despedimentos. Estúdios encerrados que a Xbox prometeu apoiar. Projetos cancelados que eram, talvez, a última réstia de criatividade no meio de tanto cinismo corporativo.

O futuro é multiplataforma… e irrelevante?

É possível que a Xbox continue a existir. Pode lançar uma nova consola. Pode investir em jogos mobile. Pode continuar a expandir o Game Pass.

Mas o que não vai conseguir fazer — pelo menos com esta abordagem — é convencer alguém de que vale a pena comprar uma consola Xbox.

E não sou só eu que o digo. Basta espreitar fóruns internacionais, vídeos no YouTube ou caixas de comentários nas redes sociais. É fácil encontrar fãs arrependidos ou completamente perdidos com a estratégia atual da marca.

Sem exclusivos, sem confiança, sem rumo… a consola da Microsoft tornou-se irrelevante. As próprias vendas mostram isso — embora a Microsoft tenha deixado de revelar os números há muito tempo, para esconder o embaraço de, mais uma vez, ser derrotada pela PlayStation.

E enquanto Phil Spencer e companhia continuam a prometer uma “visão a longo prazo”, o que se vê são apenas cortes, cancelamentos e uma marca que perdeu completamente a alma.

Na próxima geração, ninguém vai querer comprar uma Xbox. Porque a própria Xbox já não sabe o que é, nem o que chegou a representar.

Autor

Jorge Loureiro
Fundador da GeekinOut

O Jorge acompanha ferverosamente a indústria dos videojogos há mais de 14 anos. Odeia que lhe perguntem qual é o seu jogo favorito, porque tem vários e não consegue escolher. Quando não está a jogar ou a escrever sobre videojogos, está provavelmente no ginásio a treinar o seu corpo para ficar mais forte do que o Son Goku.

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    Bartolomeu Dias

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