Dwayne Johnson surpreende, mas The Smashing Machine falha o KO (crítica)
- por Jorge Loureiro
- 2 de outubro, 2025
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Normalmente evito ver trailers ou procurar demasiada informação antes de entrar numa sala de cinema. Faço-o por dois motivos: em primeiro lugar, gosto de ser surpreendido e muitos trailers atuais revelam mais do que deviam; em segundo, porque prefiro preservar a minha perceção, sem que fatores externos condicionem o impacto inicial de um filme.
Apesar disso, com The Smashing Machine senti que fui arrastado pela onda de expectativas. Só comecei a ouvir falar dele recentemente, depois da longa ovação de 15 minutos na estreia em Veneza, no início de setembro. A partir daí, surgiram descrições entusiasmadas que o apontavam como a melhor interpretação de Dwayne “The Rock” Johnson, um ator que há demasiado tempo parecia confinado a personagens semelhantes, em grande parte devido ao seu físico imponente.
Sobre The Smashing Machine
Estreia em Portugal: 2 de outubro (2025)
Género: Desporto / Drama
Realizador: Benny Safdie
Duração: 123 minutos
E sim, esta é de facto a melhor interpretação de Dwayne “The Rock” Johnson de que me recordo. O ator mergulha por completo na pele de Mark Kerr, não só na transformação física, mas também nas expressões, na forma como ocupa o espaço e até nos gestos dentro da arena. Embora o filme gire em torno do universo das artes marciais mistas, é nos momentos de silêncio e vulnerabilidade, longe da ação, que Johnson revela a verdadeira força da sua prestação.
Visualmente, o filme assume desde o início uma estética marcada. Foi filmado e editado para evocar a sensação de uma obra dos anos 90, já que a narrativa decorre entre 1997 e 2000. A escolha de usar grão de forma tão evidente contribui para essa atmosfera, mas em certos momentos transporta-o ainda mais para trás no tempo, quase como se estivéssemos a ver um filme dos anos 70 ou 80. Não chega a comprometer a experiência, mas cria um contraste curioso: a intenção é situá-lo no final da década de 90, embora a textura da imagem acabe por sugerir uma época anterior.
No que toca à narrativa, o filme inspira-se diretamente no documentário The Smashing Machine (2002), que acompanhava a vida de Mark Kerr para além do ringue. Tal como nesse registo, a história explora a sua luta contra o vício de opiáceos e analgésicos, ao mesmo tempo que revela a complexa e desgastante relação com a namorada. Uma relação marcada por exigências constantes de atenção e pela incapacidade de lhe oferecer estabilidade nos períodos cruciais de preparação para os combates.
Até aqui tudo parece sólido, mas é precisamente na comparação com o documentário que o filme começa a perder força. Enquanto o registo de 2002 oferecia um contexto mais amplo sobre a vida de Mark Kerr, a versão cinematográfica falha em dar a mesma profundidade. Vemos Kerr a viajar repetidamente para o Japão para competir no Pride, mas nunca é explicado que, naquela altura, esse campeonato era significativamente mais lucrativo do que a UFC. Do mesmo modo, a overdose retratada no filme surge de forma suavizada, bem menos grave do que aquilo que realmente aconteceu.
Para mim, o maior problema do filme é a ausência de um verdadeiro ponto alto. A narrativa parece preparar-nos constantemente para um momento decisivo na carreira de Kerr, mas esse clímax nunca chega. Essa falta de culminação dramática faz com que, em retrospetiva, certas sequências pareçam arrastar-se mais do que deviam ou acabem por soar a desvios sem grande propósito dentro do todo. Além disso, sabendo que a carreira de Kerr acabou em 2009, o filme podia ter expandido mais a abordagem à vida do lutador, não ficando tão preso ao documentário de 2002.
Apesar de o filme girar em torno de Mark Kerr, é Mark Coleman quem acaba por se revelar uma presença surpreendentemente cativante, sobretudo pela relação de amizade que vem dos tempos de universidade. Emily Blunt, no papel de Dawn Staples, acrescenta densidade emocional e está irrepreensível em todas as cenas em que participa. No conjunto, o elenco mostra-se sólido e convincente, sem falhas de maior. O problema, no entanto, não está nas interpretações, mas na direção, que nunca parece assumir um propósito realmente claro e consistente.

Veredicto
No final, The Smashing Machine é um filme competente, com um elenco em excelente forma e uma interpretação de Dwayne Johnson que ficará como um marco na sua carreira. Ainda assim, a falta de clímax, a dependência excessiva do documentário original e a ausência de um rumo mais definido na realização fazem com que a obra não corresponda ao entusiasmo gerado em torno dela. É um retrato interessante de Mark Kerr, mas fica a sensação de que poderia ter sido muito mais do que aquilo que acabou por ser.
Jorge Loureiro
O Jorge acompanha ferverosamente a indústria dos videojogos há mais de 14 anos. Odeia que lhe perguntem qual é o seu jogo favorito, porque tem vários e não consegue escolher. Quando não está a jogar ou a escrever sobre videojogos, está provavelmente no ginásio a treinar o seu corpo para ficar mais forte do que o Son Goku.

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