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Ubisoft cancela Assassin's Creed com protagonista negro por medo do clima político nos EUA

Crédito da imagem: Ubisoft

A Ubisoft terá cancelado um dos projetos mais promissores da série Assassin’s Creed. A principal razão não está relacionada com cortes, problemas de orçamento ou dificuldades técnicas.

De acordo com uma investigação de Stephen Totilo, publicada no Game File, o estúdio francês decidiu parar o desenvolvimento de um jogo passado na Guerra Civil e no período da Reconstrução Americana, onde o protagonista seria um homem negro libertado da escravidão, recrutado pela Irmandade dos Assassinos para combater o renascimento da opressão no sul dos Estados Unidos, incluindo o surgimento do ínfame Ku Klux Klan.

Cinco antigos e atuais funcionários da Ubisoft confirmaram a existência do projeto. Todos mostraram entusiasmo pela ideia, mas também frustração pela forma como tudo terminou. Segundo três dessas fontes, a direção em Paris decidiu encerrar o jogo em julho de 2024, por dois motivos principais:

  • A reação negativa nas redes sociais ao anúncio de Assassin’s Creed Shadows, cujo protagonista, Yasuke, é também negro e inspirado numa figura histórica do Japão feudal.

  • O “clima político instável” nos Estados Unidos, que, nas palavras de um dos envolvidos, tornava o projeto “demasiado político num país demasiado instável”.

Totilo sublinha que o jogo ainda estava numa fase inicial, mas que o seu cancelamento causou desconforto dentro dos estúdios.

“Os cancelamentos acontecem, mas raramente por razões como estas”, relatou uma das fontes.

A Ubisoft não comentou oficialmente a notícia.

Opinião Geekinout

A decisão de cancelar um jogo por “motivos políticos” levanta questões sérias sobre coragem criativa e responsabilidade cultural. Mostra também como o clima político global (especialmente nos Estados Unidos) está a condicionar a arte e o entretenimento, mesmo num meio que sempre se orgulhou de desafiar convenções.

É irónico: enquanto muitos jogadores pedem para “tirar a política dos videojogos”, é a própria política que agora dita o que pode ou não ser feito.

Assassin’s Creed sempre foi uma série que abraçou a diversidade e explorou períodos históricos complexos, muitas vezes através de personagens marginalizados. No entanto, este cancelamento sugere que até a Ubisoft, conhecida por se aventurar em territórios sensíveis, acabou por ceder à pressão e ao medo de reacções extremas.

Num país cada vez mais polarizado e com o discurso do ódio novamente normalizado sob a liderança de Donald Trump, a decisão de travar um Assassin’s Creed protagonizado por um homem negro parece mais um reflexo do medo do que da prudência.

Autor

Jorge Loureiro
Fundador da GeekinOut

O Jorge acompanha ferverosamente a indústria dos videojogos há mais de 14 anos. Odeia que lhe perguntem qual é o seu jogo favorito, porque tem vários e não consegue escolher. Quando não está a jogar ou a escrever sobre videojogos, está provavelmente no ginásio a treinar o seu corpo para ficar mais forte do que o Son Goku.