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Videojogos: há talento nas universidades portuguesas

Lusofona Over & Out 2025
Imagem via Videojogos Lusófona (Youtube)

Há menos de duas semanas estive na Universidade Lusófona de Lisboa para fazer parte do júri que avaliou os projetos dos estudantes da licenciatura de Videojogos. O evento, chamado Over & Out, já se está a tornar numa tradição para destacar o talento que frequenta o curso.

Aproveitei a viagem a caminho do Algarve — onde já tencionava fazer uma pausa durante esta tranquila Silly Season — para fazer uma paragem em Lisboa. Foi a primeira vez que participei num evento deste género, por isso não sabia exatamente o que esperar. Ainda assim, as expectativas eram positivas, sobretudo depois dos alunos deste curso terem chamado a atenção com Alentejo: Tinto's Law, um jogo para a Game Boy com um ADN bem português.

A verdade é que a tarde superou largamente o que antecipava. Entre as várias demos que pude experimentar, encontrei conceitos criativos, originais e, em alguns casos, surpreendentemente sólidos. Alguns dos jogos apresentados não estavam muito longe de poder ser lançados no mercado, o que é impressionante se tivermos em conta que foram desenvolvidos em cerca de três meses, por equipas de estudantes ainda a dar os primeiros passos. Não estamos a falar de profissionais experientes, mas de alunos que estão a aprender, a testar ideias e a afiar as suas ferramentas criativas.

Infelizmente, ainda há quem olhe com algum desdém para o que é feito em Portugal na área dos videojogos. Esta mentalidade começa, felizmente, a mudar (nota-se um progresso visível nos últimos anos), mas ainda há um longo caminho a percorrer. É verdade que não temos um FIFA, um Call of Duty ou um GTA feito em território nacional, mas o cenário em 2025 não tem nada a ver com o de 2009, quando comecei a escrever sobre esta indústria. Hoje há mais equipas, mais talento, mais estrutura e um ecossistema em crescimento, apoiado por iniciativas que, com a devida continuidade, podem ajudar Portugal a dar finalmente o salto para o próximo nível.

O que mais me surpreendeu nestes projetos foi a diversidade de ideias e a forma como fogem ao molde tradicional dos jogos AAA. E isso, para mim, é extremamente positivo. Tenho conversado com várias pessoas da minha geração e há uma opinião cada vez mais consensual: a indústria AAA está estagnada. Os jogos parecem-se todos uns com os outros, desenhados para capitalizar em fórmulas testadas, tendências do momento e apostas seguras. Nesse contexto, ver estudantes a experimentar ideias novas, com abordagens diferentes e conceitos frescos, é não só refrescante, como essencial para o futuro da indústria.

É verdade que ainda não existem muitos estúdios de grande dimensão em Portugal capazes de absorver este talento emergente, mas o cenário é mais promissor do que à primeira vista se pensa. Segundo os dados mais recentes, há atualmente cerca de 195 estúdios a operar no país, espalhados de norte a sul. A maioria são pequenas equipas independentes, mas é assim que muitas histórias de sucesso começam. E quando falamos de talento nacional, há já exemplos concretos lá fora: José Teixeira, uma figura-chave na CD Projekt RED durante o desenvolvimento de The Witcher 3, hoje é cofundador da Exit Plan Games; Alexandre Amâncio, natural de Braga, foi diretor criativo de Assassin’s Creed e atualmente está na FunPlus.

A questão já não é se Portugal ou os portugueses têm capacidade para se afirmar na indústria dos videojogos; porque têm. A verdadeira questão é se conseguimos nutrir esse talento, dando-lhes as ferramentas, oportunidades e visibilidade que precisam para crescer. Isso começa por experimentar o que é nosso, apoiar os projetos nacionais e falar deles. É precisamente isso que tento fazer sempre que tenho oportunidade.


Vencedores do Over & Out 2025 na Universidade Lusófona

  • Prémio Telmo Couto: Melhor Conceito: Lost Frequency (atribuído por Nuno Mendes do portal Meus Jogos)

  • Prémio: Melhor Sistema Desenvolvido num jogo - Outer Dim (atribuído pelo docente Diogo Andrade da Universidade Lusófona)

  • Prémio: Jogo mais Inovativo: Master Galgabin (atribuído por Ricardo Cesteiro da Camel 101)

  • Prémio: Incentivo à Cultura: Bufo Catcher (atribuído por Jorge Loureiro do website GeekInOut)

  • Prémio: Impacto Social: Thank You, Doctor (atribuído por Afonso Lage e André Santos)

  • Prémio: Alt. Ctrl: Lost Frequency de (atribuído por Afonso Lage e André Santos, respectivamente Marmalade e Instict)

  • Prémio: Especial 42: Occupied (atribuído por Gonçalo Tordo do canal de Youtube St1ka)

  • Prémio: Best Akward Game: GopissGR (atribuído por Pedro Pestana do Website IGN)

  • Prémio: Melhor jogo EPIC-WE: Criminal Fauna Identification (atribuído por Conceição Costa, Micaela Fonseca e da Universidade Lusófona)

  • Prémio: Melhor Jogo do Ano: Outer Dim (atribuído por Filipe Luz da Universidade Lusófona)


A visita à Universidade Lusófona deixou-me com uma certeza: há muito talento nas universidades portuguesas, apenas à espera de oportunidade e visibilidade. Estes estudantes não estão apenas a aprender a fazer jogos: estão já a fazê-los. E fazem-no com criatividade, ambição e vontade de experimentar.

Se quiseres ver com os teus próprios olhos o que anda a ser feito por cá, a Lusófona já disponibilizou gratuitamente duas coleções no Steam com jogos criados pelos alunos: a Lusófona Games Collection 2023 e a Lusófona Games Collection 2024. A edição de 2025 deverá chegar nas primeiras semanas de agosto, também sem qualquer custo. Podes espreitar aqui:

Numa altura em que muitos se queixam de falta de originalidade na indústria, talvez valha a pena olhar para o que está a nascer no nosso próprio quintal. Porque o futuro pode mesmo estar a ser desenhado numa sala de aula em Lisboa.

Autor

Jorge Loureiro
Fundador da GeekinOut

O Jorge acompanha ferverosamente a indústria dos videojogos há mais de 14 anos. Odeia que lhe perguntem qual é o seu jogo favorito, porque tem vários e não consegue escolher. Quando não está a jogar ou a escrever sobre videojogos, está provavelmente no ginásio a treinar o seu corpo para ficar mais forte do que o Son Goku.