Este português vai representar o país num Campeonato Mundial… e quase ninguém sabe

Diretamente de Braga para Richmond, no Canadá, Fernando Gonçalves prepara-se para representar Portugal no 45.º World Amateur Go Championship, que se realiza de 16 a 23 de maio de 2025.

Em conversa com o Geekinout.pt, o jogador português falou sobre o seu início no Go inspirado por um filme de Hollywood, da evolução da comunidade nacional e do que aprendeu dentro — e fora — do tabuleiro.

Entre orgulho e foco, Fernando encara este desafio mundial com humildade e vontade de crescer. Fica a conhecer Fernando Gonçalves na entrevista que se segue.

Como é que começaste a jogar go?

Foi o meu irmão quem me introduziu ao jogo! Conheceu-o através do filme “Uma Mente Brilhante”, encomendamos um tabuleiro, e começamos a jogar juntos. É engraçado porque agora reconhecemos que esse filme representa Go de uma forma horrível.

Lembras-te da primeira vez que jogaste? Percebeste logo alguma coisa ou demoraste a aprender?

Recordo-me perfeitamente do começo! Aprendi o básico depressa, mas surgiam sempre dúvidas a meio do jogo. Lembro-me de interromper partidas porque chegava a “situações impossíveis” por quebrar uma regra anteriormente. Não me esqueço da frustração de cair nas mesmas “armadilhas básicas” vezes sem conta, e de estar constantemente a planear o meu próximo jogo.

Em que momento é que pensaste: “ok, se calhar até tenho jeito nisto”?

No primeiro torneio em que participei, o Open do Porto de 2013! Apenas ganhei uma de quatro partidas, mas foi contra um jogador mais forte e experiente. No Go, é bastante raro derrotar-se jogadores mais fortes. Foi um grande impulso de confiança.

Como é que descreverias a comunidade de GO em Portugal? Pequena, em crescimento, estável?

Em crescimento, sem qualquer dúvida.

Em 2013, os torneios nacionais contavam com 8 a 12 participantes. Agora, os números rondam os 30 (com a presença de jogadores internacionais). Para além disso, vejo o Go a ser representado em eventos e convenções de anime. Há cada vez mais consciência do que é o Go mesmo por parte de quem não joga ativamente. Tanto os Anime como os K-Drama ajudam muito nesta consciencialização.

Crédito da imagem: Fernando Gonçalves

Vais representar Portugal num campeonato mundial. Isso mete mais nervos ou orgulho?

Orgulho e vontade de aprender. Ainda não estou numa posição em que é realista competir pelo topo do torneio, o que acalma os nervos. Quero ter uma boa prestação para o meu nível, e sair de lá com o mesmo orgulho com que vou entrar, mas acima de tudo quero aproveitar esta oportunidade para praticar e estudar o jogo ao máximo!

Tens alguma ajuda do estado português para representar o nosso país?

Por parte do estado português, não tenho qualquer ajuda. Contudo, a Federação Internacional de Go (IGF - International Go Federation), presta auxílio cobrindo as despesas de estadia e alimentação.

Como é que te preparaste para o campeonato? Costumas rever jogos antigos para aprender?

Joguei online para garantir que mantenho a forma e uma boa intuição para ler o estado do tabuleiro, e estudei aberturas (memorizar sequências estudadas) pois sei que são a minha maior fraqueza. Revejo os meus jogos mal os termino, e tiro anotações das razões para perder/ganhar (podem ser notas de jogadas concretas, ou questões mentais como excesso de confiança, nervosismo, impaciência, …). Visito essas anotações de forma mais focada em vez de analisar as partidas completas.

O que é que o Go te ensinou fora do tabuleiro?

Difícil de dar uma resposta resumida! A principal lição foi a abordar problemas com equilíbrio. No Go, excessos são castigados: a ambição leva à derrota, mas ser muito defensivo também. Aprendi também a olhar constantemente para o contexto local e global. No Go, não há muitas vitórias absolutas, mas sim trocas e compromissos. Enquanto perdes uma disputa podes estabelecer uma posição forte para a próxima batalha. Sinto que esta dualidade de perspetivas é vital para imensos projetos da nossa vida.

Crédito da imagem: Fernando Gonçalves

Costumas ter algum ritual antes de jogar? Tipo café, silêncio, ou uma música a la Rocky?

Antes das partidas, faço tudo para não pensar em Go. Os piores nervos são sempre antes do começo. Evito exaltar-me ou ficar acelerado, distraio-me sem me cansar. Foco-me em olhar para os detalhes do local do evento ou da paisagem em seu redor, tento mesmo pasmar ao máximo.

Que conselho darias a alguém que acabou de descobrir o Go e não percebe nada daquilo?

Se o objetivo é aprender o jogo, nada é melhor do que jogar e cometer erros. Ler as regras, e de seguida memorizá-las com a experiência. Há bots em aplicações no PC ou telemóvel que são bons para começar. Conhecendo os básicos, o jogo torna-se muito mais divertido contra humanos! Aconselho a praticar contra amigos ou jogadores online o mais rapidamente possível.

Se o objetivo é apenas conhecer um pouco da cultura e história do Go, recomendo vivamente a série de Manga\Anime: Hikaru no Go.

Se queres acompanhar Fernando Gonçalves, recomendamos também que sigas o seu canal do Youtube, onde publica e faz livestreams regulares de Age of Empires e outros jogos de estratégia.