Hell is Us (análise) | Combinação incomum, mas com sucesso
- por Pedro Gomes
- 15 de setembro, 2025
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Do estúdio por trás de títulos do universo Warhammer como Necromunda: Underhive Wars e Mordheim: City of the Damned, temos o primeiro IP original que visa combinar dois géneros distintos, uma aventura repleta de ação na terceira pessoa com elementos de puzzle e exploração intrinsecamente ligados ao nosso progresso, numa receita pouco comum de ser ver aplicada nos dias de hoje.
Num mês de setembro que só nas suas duas primeiras semanas contém lançamentos antecipados como Borderlands 4, Hollow Knight Silksong e Cronos: The New Dawn, esta é, sem dúvida, uma altura do ano com competição bastante feroz. Tendo isso em conta, resta saber se Hell is Us tem argumentos para se destacar em relação à competição ou se vai cair na obscuridade e ser um risco que o estúdio Rogue Factor não vai repetir tão cedo.
Versão testada: PS5
Preço: 49,99€
Um mundo brutal e sem piedade
Abandonado pelos seus pais, que o enviaram com apenas 5 anos para fora do seu país natal com a esperança de que este tivesse uma vida normal e fora dos conflitos que lentamente borbulhavam lá, Rémi Letam resolve voltar a Hadea já como adulto para reencontrar a sua família. Entrando agora num cenário de plena guerra civil e com criaturas horrendas a vaguear pelas ruas devastadas, o nosso protagonista dá de frente com o que acontece quando a humanidade se deixa guiar pelo ódio e falta de aceitação. Famílias destroçadas, vilas bombardeadas e cadáveres por todo o lado, num mundo que não se poupa em demonstrar os verdadeiros horrores da guerra em todo o seu esplendor mórbido, quase que espelhando momentos ainda bem presentes no mundo real, tanto como no passado como também no presente. Serão as aberrações que passeiam pelas ruas os verdadeiros monstros? Ou serão eles apenas um reflexo nosso?
Dependendo apenas dos locais que aqui permanecem enquanto procuram entes queridos ou por incapacidade de evacuar, Rémi irá também ter que lidar com os horrorosos Hollows, criaturas brancas com movimentos bizarros que proliferam neste clima de emoções negativas fortes. Conseguiremos encontrar a nossa família e a verdade de quem realmente somos? Bem, sobre o efeito de um soro da verdade, iremos contar tudo enquanto estamos presos contra a nossa vontade, questionados por alguém não nos é familiar.
A história é certamente um ponto forte de Hell is Us, com um enredo que levará o jogador por um mundo extremamente realista e humano, incluindo o twist sobrenatural dos Hollows que são a força inimiga mais direta para o nosso protagonista. Com voice acting de alto nível, um mundo brutal, mas cheio de histórias para contar, e mistérios que me deixaram curioso para desvendar, não faltaram pontos que me propulsionaram até ao fim. Contudo, numa história dividida em 3 atos, o último é consideravelmente mais condensado e acaba em menos de uma hora, culminando num fim que deixou em mim uma sensação anticlimática em relação ao resto da trama e não foi lá muito satisfatório… uma pena.
Imagem capturada por Geekinout.pt
Combate satisfatório, mas falta algo
Com os Hollows bem presentes pelos vários locais de Hadea, Remi tem a sorte de ficar a saber bem cedo na sua aventura acerca da forma ideal para se ver livres deles. Com armamentos especiais que são os únicos capazes de causar dano a estas criaturas, o jogo dá acesso a 4 tipos de armas corpo-a-corpo diferentes: espadas simples e eficazes, duplas de machados, espadas gigantes, mas igualmente pesadas, e polearms mais ágeis, mas devastadores. Cada uma destas armas vai ganhando níveis conforme derrotamos inimigos com ela, aumentando assim o dano causado com cada ataque, até um certo limite que pode ser aumentado ao dar upgrade da mesma.
Além da versão básica, cada um destes estilos de equipamento oferece 4 versões distintas baseados em emoções: fúria, terror, êxtase e pesar. Para as obter, é possível refinar as versões base através do NPC responsável por upgrades e tudo o resto em relação às armas ou por via de exploração dos mapas. É também possível incluir habilidades extra, graças aos 4 slots que cada ferramenta de guerra inclui, possibilitando ataques potentes ou stuns numa área que são úteis em situações delicadas, entre outros, culminando tudo isto num sistema com alguma variedade em termos ofensivos e bastante natural.
O combate em si retira bastantes apontamentos dos soulslike da vida, com ataques simples e pesados, um dodge role e um sistema de parry/bloqueio bastante convencional. Enquanto que todos os ataques podem ser bloqueados, negando o seu dano e desgastando apenas a nossa barra de stamina, alguns destes são sinalizados através de um brilho vermelho no corpo dos inimigos, avisando que podem ser defletidos. Se bloquearmos de forma atempada, isso resulta na redução na barra de pose adversária que, quando levada a 0, permite a execução de um finisher letal. A novidade em Hell is Us é a inclusão de um sistema de healing pulse, que converte parte do nosso dano infligido em potenciais pontos de vida. A cada ataque feito, após um espaço curto de tempo, Rémi terá um círculo branco a rodear o seu corpo que, quando atinge a sua totalidade e brilha, indica que deve ser clicada a tecla associada para recuperar a porção da nossa vida detalhada no nosso HUD. No entanto, ataques falhados, timing atrasado/adiantado ou dano sofrido nesta curta janela de tempo resulta na perda total deste potencial de recuperação. É um sistema que pode parecer um bocado complicado, mas rapidamente se entranha no resto da ação de forma natural, sendo uma ótima ferramenta defensiva ao longo da jornada.
Imagem capturada por Geekinout.pt
Também em termos de agressão temos o nosso fiel drone, que pode receber 4 módulos diferentes, proporcionando-lhe igualmente habilidades que permitem distrair um oponente para evitar lutas em desigualdade numérica ou propulsionar Rémi a alta velocidade para atacar e causar um bom dano ao adversário. Aqui as possibilidades são um pouco mais escassas e acabei por não utilizar muito este sistema, deixando antes a minha espada gigante falar por mim.
Além dos Hollows simples que oferecem apenas 5 tipos distintos de formas, existem igualmente as Lymbic Entities. Estes rivais são iguais aos Hollow, só que estes projetam Haze – monstros com formas diferentes baseados nas quatro emoções também disponíveis no nosso armamento (fúria, terror, êxtase e pesar) que têm o seu próprio padrão de ataque. Estas entidades só podem ser eliminadas se a Haze for derrotada em primeiro lugar, dando uma janela para derrotar o Hollow que a possui. Sendo esta a única variação disponível no jogo, é isto que me leva a um dos meus pontos negativos: a falta de variedade de inimigos! Com apenas dois “bosses” ao longo da história que se resumem a Hazes com uma gimmick chata, é de notar que num jogo que coloca um número elevado de obstáculos no nosso caminho, este esgota o seu elenco nas primeiras horas do título. Acrescentando níveis diferentes que se distinguem pelo grau de agressão e dano infligido, mas nada de mais, após decorar os padrões simples de ataque, o desafio passava por fazer frente a hordas dos mesmos inimigos repetidos sem o entusiasmo de encontrar novas ameaças: um pouco desapontante.
Elemento de exploração, um pau de dois bicos
Um dos grandes pontos de diferenciação de Hell is Us é a ausência de mapas, mini-mapas e outros guias de gameplay como setas, waypoints, tinta amarela miraculosa e afins, com o objetivo de criar uma exploração autêntica e sem rodas de apoio. Dependendo apenas das informações das pessoas por quem vamos passando, de notas espalhadas pelo ambiente e direções como “vai para noroeste e procura a casa com um escorrega à frente”, Rémi e o jogador têm também do seu lado um fiel datapad que será dos nossos maiores aliados. Agrupando coisas como itens chaves, apontamentos em relação aos diferentes objetivos e tudo o resto que possa ser útil, além de ser o sítio onde podemos equipar itens ou habilidades nas nossas armas e drone, este foi um ponto de paragem frequente na minha aventura.
Além dos objetivos principais, existe também imensa gente a precisar da nossa ajuda nos diversos locais, seja para encontrar um filho que ficou para trás numa cidade ocupada pelas forças inimigas ou alguém que procura um meio de transporte para fugir deste ambiente hostil. Estas boas ações são igualmente crípticas em muitos dos casos, já que muitas das vezes alguém te vai pedir alguma coisa que não fazes a mínima ideia de onde encontrar a não ser que revires tudo o que te aparece pela frente… ou se calhar até encontras as coisas por mero acaso numa área completamente diferente de onde seria natural encontrar, quem sabe. Atenção porque algumas destas atividades são temporizadas e o desfecho pode dar-se sem a nossa interação: o problema é que não há uma boa maneira de saber quais delas são assim, visto que quando descobri algumas delas, já ia bem tarde, resultando num cenário negativo.
Juntando a isto existem os Time Loops, domas gigantes espalhadas pelos mapas que se encontram protegidas por guardiões distribuídos ao longo de cada uma das zonas. Estes são Hollows ou Lymbic Entities ligeiramente mais fortes que podemos procurar graças a um conveniente item no nosso arsenal. Ao derrotar cada um destes, é-nos oferecida uma frase no centro do ecrã a informar que existe menos um a proteger e, ao eliminar todos, a barreira protetiva cai e é-nos possível entrar nos Loops para por um fim ao ciclo com a ajuda do nosso drone.
Imagem capturada por Geekinout.pt
Hadea é um local brutal em termos da guerra civil, mas a exploração também não é nada meiga, deixando pelo nosso caminho imensos puzzles, mensagens crípticas que muitas das vezes me deixaram a coçar a cabeça e personagens que optam pela pior maneira possível de guardar uma combinação de um cofre. Passei imensos momentos em que me esbarrei num objetivo que não conseguia decifrar e andava para trás e para a frente a ver o que tinha falhado, apenas para descobrir que afinal não tinha visto um caminho secundário. Também alguns dos puzzles eram extremamente confusos, como o de decorar 7 dígitos que posso encontrar em 4 retratos representando a vida de um rei falecido, ordenar por ordem cronológica, mas afinal não era bem por ordem cronológica e afinal também é para inserir tudo de forma invertida. Basta perceber mal uma das instruções e no final já ia ser uma salgalhada mais ou menos, portanto recomendo teres contigo um bloco de notas ou caderno para apontar informações importantes caso jogues numa consola, e mesmo assim vão haver cenários que te vão deixar empancado graças às voltas e reviravoltas do que tens ao teu dispor.
O elemento de exploração tanto pode oferecer momentos de satisfação quando se avança de forma natural como pode também ser extremamente frustrante quando está algo a falhar, algumas das vezes por culpa minha e outras porque as instruções são simplesmente demasiado conturbadas e confusas para criar desafios extra. Tendo em conta que este é um jogo com bastante ação à mistura, a combinação com elementos que por vezes coloca o pé a fundo no travão para desvendar uma porta secreta ou encontrar um item essencial causa um contraste enorme. É um título que certamente não agradará a fãs de pura adrenalina devido aos momentos mais pausados, enquanto que quem procura um jogo para desvendar um mistério de forma mais calma pode ser dissuadido pelo combate mais intenso.
Como alguém que por norma não é muito picuinhas em relação ao que jogo, senti-me ainda assim muitas vezes frustrado com alguns dos puzzles e por andar perdido por largas durações de tempo, pelo que devo avisar que Hell is Us não é certamente um jogo que agradará a todos!
Apresentação de alto nível
Dos pontos mais altos deste título é sem dúvida a sua apresentação no seu geral. No modelo base da PS5 e utilizando o modo de qualidade que se ajusta melhor aos momentos de combate, os 60 FPS eram praticamente garantidos, apenas com umas ligeiras exceções ao entrar em certas dungeons que causaram uns abrandamentos. Em termos de grafismos o jogo é muito bom, com ambientes de alto nível de detalhe e qualidade, realçando o cenário desolador acima da terra e igualmente nas masmorras misteriosas debaixo da mesma. Os efeitos de luz neste segundo exemplo são muito bons e a nossa lanterna deixa brilhar os sistemas de iluminação bem executados, de forma literal. Pelo lado negativo temos o pop-in agressivo de várias texturas em ambientes abertos, sendo bastante percetível e até incomodativo em alguns casos, quando objetos surgem do nada a poucos metros de distância.
A complementar de forma excelente todo este ambiente é o design sonoro, com efeitos sonoros para os nossos inimigos que adiciona uma camada extra de quão perturbante estas criaturas são, trilhas ambientes que encaixam também no mood que o jogo quer apresentar e tudo o resto que contribui para realizar o mundo hostil e perturbante que nos rodeia.
Sem crashes e com apenas um bug em relação a um inimigo que ficou preso a sair do seu spawn, a experiência no seu geral é extremamente polida e de alto nível, sem grandes negativos a apontar nas minhas horas passadas em Hadea, antes pelo contrário.
Imagem capturada por Geekinout.pt
Perguntas Frequentes sobre Hell is Us
Hell is Us é um soulslike?
Não exatamente. Embora o combate de Hell is Us tenha inspirações claras em jogos soulslike — com ataques leves e pesados, dodge roll, parry e barra de stamina — o jogo não se enquadra totalmente no género. Mistura ação em terceira pessoa com exploração e puzzles, priorizando narrativa e imersão, em vez da dificuldade extrema típica dos soulslike.
Hell is Us é exclusivo de PS5?
Hell is Us não é exclusivo da PS5. Apesar de ter sido amplamente divulgado na consola da Sony, o jogo também chega ao PC e Xbox Series X|S. Portanto, jogadores fora do ecossistema PlayStation também podem jogá-lo.
Que tipo de jogo é Hell is Us?
O título é uma mistura de ação e aventura em terceira pessoa, com elementos de exploração e puzzles. O seu factor diferencial está na ausência de mapas e waypoints, forçando o jogador a explorar de forma orgânica e a seguir pistas narrativas para progredir.
Hell is Us é mundo aberto?
Sim, Hell is Us oferece uma experiência de mundo semiaberto. As áreas são vastas e interligadas, permitindo exploração livre, mas não se trata de um mundo aberto totalmente contínuo como em outros RPGs modernos. O foco está na descoberta manual, sem setas ou guias artificiais.
Prós e Contras:
Prós
História interessante e bem atual, repleta de mistérios intrigantes;
Visuais e apresentação no seu geral de alto nível;
Combate de bom nível com progressão natural;
Exploração que tanto pode ser a melhor coisa do mundo…
Contras
… como pode ser a coisa mais frustrante de sempre, passei pelos dois campos;
Variedade de inimigos é baixa e bosses são quase não existentes;
Final da história anticlimático.

Veredicto
Hell is Us mistura dois conceitos já existentes numa aventura repleta de ação, puzzles por decifrar e mistérios por desvendar, num mundo realizado de forma excelente graças à sua apresentação praticamente imaculada e às suas personagens e história intrigantes. Enquanto o combate é também um aspeto interessante, a variedade de inimigos é insuficiente e a exploração acaba por ser um pau de dois bicos, sendo o elemento “vai ou racha” da experiência, variando entre o muito satisfatório e o extremamente desgastante. Apesar de ter gostado das 17 horas passadas em Hadea, tenho que avisar que, devido aos elementos de jogabilidade contrastantes, este jogo possa não ser para todos.
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Pedro Gomes
Um verdadeiro amante de videojogos desde muito cedo e sendo o seu hobby preferido sempre, o Pedro tenta agora, como um adulto irresponsável, arranjar tempo para uma jogatana quando os seus dois demónios peludos favoritos o permitem.

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