O Discord é geralmente visto como uma aplicação para gamers, onde podem comunicar online através de texto, áudio, imagens ou vídeo. No entanto, numa impressionante exibição de democracia digital, a aplicação foi usada para escolher a nova primeira-ministra do Nepal.
É certamente um método ortodoxo, mas foi a solução que o movimento Hami Nepal, formado por jovens da chamada Gen Z, encontrou para resolver os problemas do país, que estava com problemas político-sociais desde 2008, quando caiu a monarquia.
O movimento, organizado pelo grupo Hami Nepal, que reúne mais de 160 mil membros, promoveu um debate no servidor Youth Against Corruption, reunindo cerca de 10 mil participantes em tempo real e outros 6 mil através de uma transmissão paralela no YouTube (porque o servidor não aguentou a carga).
Para quem precisa de contexto:
2008 – O Nepal abole a monarquia e adota uma nova constituição. Desde então, o país teve 14 governos diferentes, alternando entre três grandes partidos, mas sem estabilidade.
Últimos anos – Crescente descontentamento popular devido à corrupção, nepotismo e falhas nos serviços públicos.
Início de setembro de 2025 – O governo de KP Sharma Oli bane várias redes sociais, incluindo Discord, Instagram, Twitter e YouTube, alegando motivos de segurança.
9 de setembro de 2025 – Repressão violenta de protestos contra o governo provoca pelo menos 72 mortos. A medida acelera a queda do executivo e a revolta popular espalha-se por todo o país.
12 de setembro de 2025 – O parlamento é dissolvido pelo presidente Ramchandra Paudel, que marca eleições para março de 2026.
Nesse mesmo dia – O movimento Hami Nepal, formado por jovens da chamada Gen Z, decide usar o Discord para debater e escolher de forma aberta um nome para liderar o país até às eleições.
13 de setembro de 2025 – Após horas de debate, milhares de participantes escolhem Sushila Karki, ex-juíza do Supremo Tribunal, como primeira-ministra interina.
A decisão de escolher um líder via Discord surge como contraponto às práticas tradicionais do mundo político. Em particular no Nepal, as discussões para decidir o próximo governo decorriam frequentemente à porta fechada. Para os jovens do Nepal, esta experiência representou uma forma mais transparente, aberta e inclusiva de decidir o futuro da nação.
Apesar dos especialistas temerem riscos – sobretudo de manipulação digital das votações, por falta de verificação – esta foi sem dúvida uma forma inovadora (e nunca antes de vista) de eleger alguém para liderar uma nação.
(via Aljazeera)
Autor
Jorge Loureiro
Jorge Loureiro
O Jorge acompanha ferverosamente a indústria dos videojogos há mais de 14 anos. Odeia que lhe perguntem qual é o seu jogo favorito, porque tem vários e não consegue escolher. Quando não está a jogar ou a escrever sobre videojogos, está provavelmente no ginásio a treinar o seu corpo para ficar mais forte do que o Son Goku.
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